sábado, maio 02, 2009

Infidelidade

Recentemente, dois cientistas norte-americanos levantaram uma tese polémica: a de que existe no ser humano uma tendência natural à infidelidade. Segundo eles, a monogamia, uma raridade entre a maioria dos animais, é apenas uma imposição cultural e social para o homem civilizado. De acordo com os pesquisadores, é antinatural um casal viver junto até que a morte os separe; na verdade, são outros motivos que costumam unir ou desunir os pares, como diferenças religiosas, necessidades económicas, preservação da espécie e reconhecimento da prole.
Embora a maioria das mulheres procure resistir ao impulso da traição, os homens caminham no sentido oposto. Eles ainda traem mais do que elas. A novidade é que agora eles começam a se sentir culpados por levar adiante casos extraconjugais. Muitos homens sentem culpa e ficam abalados ao destruir o vínculo de lealdade com a companheira do seu dia-a-dia. Essa culpa é um fenómeno de uma geração mais recente, formada por homens com menos de 50 anos, casados com parceiras que trabalham e dividem responsabilidades em pé de igualdade. A maioria dos que estão acima dessa faixa etária continua a ser infiel sem qualquer tipo de remorso ou culpa. De fato, homens e mulheres têm muitas diferenças. Divergem nas atitudes, na maneira de pensar e agir e principalmente no comportamento sexual. As mulheres adoram interagir, conversar, trocar. São características femininas, que aparecem logo na infância. Os homens, ao contrário, são de poucas palavras e reclamam que as mulheres não se interessam muito por sexo. Dizem que não são desejados como deveriam ser e que elas raramente tomam a iniciativa. Num estudo realizado nesses dois últimos anos, contactei em 45 homens que mais da metade deles (58%) não se sentem sexualmente desejados. Cerca de 65% deles se sentem valorizados como pais, cidadãos e profissionais, mas não como amantes.
Muitas mulheres sentem desejo, mas não procuram os seus parceiros. Às vezes, elas precisam de um estímulo para dar o primeiro passo. Essa atitude é bem mais fácil quando se tem 20, 25 anos. Já a mulher de 40 ou 50 anos dificilmente toma a iniciativa. Ela é receptiva aos estímulos eróticos e multiorgásmica, mas não tem coragem de expressar directamente que está interessada em um homem ou quer ter um encontro íntimo.
Entre os homens mais jovens, o sexo casual acontece de maneira diferente: não têm amantes fixas e os romances duram, em média, de três a quatro meses. Poucos desses homens traem porque encontraram a paixão de sua vida. A maioria busca uma mulher fora do casamento para se auto-afirmar e provar a si mesmo ou aos amigos que ainda está viril. Não existe envolvimento emocional. É sexo pelo sexo.
É claro que as mulheres também traem e isso tem sido crescente em decorrência da maior liberdade conquistada. À medida que o parceiro apresenta um tipo de problema até comum, como a ejaculação precoce, a mulher não mais consegue conviver com esse verdadeiro "desmancha-prazeres". Mas, ao contrário dos homens, são bem mais selectivas. Enquanto eles traem por razões ligadas à sexualidade, elas se tornam infiéis por motivos como desamor, decepção e raiva do parceiro.
Na verdade, em um mundo extremamente erotizado como o de hoje, a fidelidade absoluta somente é possível com um imenso esforço. Muitas vezes é preciso reprimir os impulsos para não fazer o parceiro sofrer. Por outro lado, a fidelidade deixou de ser uma imposição da sociedade para se tornar uma escolha basicamente consciente de quem conseguiu encontrar uma sensação de plenitude ao lado da pessoa amada.

Médico psicoterapeuta. Autor do livro Vida a dois - Editora Arx.